A estas duas forças que se entrelaçam em mim, que me fazem dançar de forma natural entre o inspirar e expirar, entre o começar e acabar..duas forças que me impelem à urgência de Ser, ao tesão de experienciar, ao prazer de me descobrir sabendo que há à minha espera uma porta finita que me conduz ao infinito.
Provar do constante beijo amargo ao saber que nada dura para sempre, torna tudo tão doce, tão urgente e tão sagrado. Parecem ser duas pontes lado a lado, mas na verdade é só uma, um só caminho, o mesmo balanço, o mesmo destino que tantas vezes ouso em esquecer como se imortal me pudesse fazer.
Nesse esquecimento caio na amargura de quem pensa poder brincar com o tempo...de quem pensa ser mais forte que o número de suspiros que tem direito a dar... vou à frente do presente perdendo o agora, vou atrás no tempo perdendo a vida, não me dando conta que morro muito mais na ansiedade do que vem, do que na sábia capacidade de abraçar o já que a dança da vida e da morte têm para me dar.
Tenho uma só oportunidade - fazer amor com este momento, ele que é a única hora que tenho para desfrutar deste minuto no tic-tac do relógio efémero para com o infinito, que se move a cada milésimo de segundo do agora, que em contagem decrescente me relembra que o tempo é uma lembrança necessária para abraçar o berço da vida através da memória de que me conduzo ao leito da morte.
Oh Vida que és tão Bela, Oh Morte que és tão singela... em vez de te compreender, receio-te e repulso-te... e assim, apaga-se-me a verdade de que hoje pode ser o último suspiro e por isso vivo sem viver, apagado do que vim aqui fazer, julgo em vez de amar, separo-me em vez de me unir, considero-me imortal em vez de aproveitar a mortalidade do agora, fazendo do tempo o mais precioso presente que o presente me pode oferecer.
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